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Vide Bula

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Queira, mas queira sobretudo as entrelinhas  Porque ali, por incrível que pareça, subexiste um tanto inestimável de revelação Ali uma crônica pode ser folheada à seu tempo Isso, se tu te aprazes dos detalhes  Ali um conto erótico te consome  Ali um romance pode te obstruir alguma artéria  E uma poesia pode te levar à sandisse ou à uma porta aberta pro infinito Há que não se estar certo de nada, mas seguro de tudo Há que se ter disponibilidade para ser tocado pela obra por completo  Porque se tu tomas apenas excertos alheatórios Corre-se um grande risco de se experimentar a insipidez tangida por uma linha tênue entre ter tudo ou não ser nada  E aí me ocorre que riscos são como dependência química e eu simplismente não consigo evitá-los Riscos são um tipo de revolução silenciosa e quando finalmente os percebo, é como se estivesse numa praia da Tailândia andando num elefante.  Me pergunto, que tomo se escolheria pra começar, crônica, conto erótico, romance o

Natureza Suisgeneris da Mulher da Barca

Sexta-feira, fina chuva, velha barca... Cheiro de lixo e urina, que passa desapercebido porque a gente só quer chegar E aquela mulher tão alva, tão grisalha, de cabelos compactos e ondulados, com dedos tão delgados e frágeis E aquela mulher protegida do frio... Transportada, afagava minuciosamente cada cartão postal por escrever com a ponta dos dedos. Como fosse um acalanto permeado pela jóia antiga no dedo anelar direto, jóia de bisa-avó. E aqueles olhos opacos, rasos dágua, desejavam brilhar... Só não podiam, já avistavam a XV. E aquela mulher tão alva, forte e militar, se pôs à caminho

Chegada

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Se as tulipas não entorpecerem meu pássaro negro, não deixarei de sentir angústia e prazer ao mesmo tempo, toda vez que estiver emoldurada pelo lado de dentro Mas, de verdade, gosto de sentar ali porque tua coleção de nuvens é sempre diferente. As vezes me apraz. As vezes me corta. Será que você tem algum tipo de memória? Queria entender se você consegue armazenar histórias. Se consegue, como faz essa seleção?

Hoje eu vou tomar veneno no gargalo indo pra puta-que-me-pariu

Minhas preces pelo cuidado estão todas falidas Hoje eu não tenho nada de novo pra te contar, porque eu não quero Empapuçada de reticências e conceitos invertidos que você usa como moleta É até engraçado te olhar de fora Meu rosto adornado com gotas de madre pérola, deixa a cena Hora de respirar fundo na coxia, procurar no acervo um vinil dramático e concentrar nos ruídos É hora, é hora!!! Do espaço entre os passos tortos, de perder o pudor e mudar o verbo Não posso te ajudar a colecionar vidas alheias nem a cultuar teu próprio umbigo O jeito como você me subestima me faz sentir genial Veja você que não sabe Veja você esse não Se eu não puder poetizar todos os brilhos de íris Todos os sorrisos de olhar Todo cheiro e todo gosto Não quero É hora, é hora!!!

Precipitações de encontro ao ausente

O lírio de prata que pousa em meu dedo expeliu polem envenenado. Chegando na rua de casa fechei os olhos e abri os braços contra o vento. Vim caminhando assim ao som de "Fool", mas parei no portão. Devia ter atravessado o cruzamento só por esporte, o que me faria sentir viva por hoje. Tirei a rolha do Conha y Toro e bebi no gargalo com o resto do lacre cortando a boca. Fazer uma luminária com essa merda de garrafa pra não esquecer meus flashes de lucides. Não pretendi ser fácil mesmo. Muito mais faces e fazes que qualquer outra. Quero desconstruir todas as coisas e ainda assim me bastar. Sou uma pessoa sem medo, rasgada, craquelada e sempre disposta a juntar os cacos. Não quero saber de porra nenhuma porque um belo dia se morre. Fica assim por hoje...

Considerações sobre a minha cor e som

Tudo em mim é vermelho Tudo em mim grita Tudo em mim explode As vezes queria um piscar de olhos brandos, mas até meus cílios fazem barulho quando se encostam. Não consigo ficar em silêncio não consigo pegar no sono Meus órgãos têm vida própria. Não sei por onde caminho e se caminho não tem volta porque tudo deve ter seu fim Sou feita de extremos vermelhos e barulhentos. Como taça de vinho encorpado com som gramofônico que se repete. Tenho que esperar a película arrebentar pra apagarem as luzes e as pessoas irem embora.